Cromeleque dos Danados: agosto 2016

12 agosto 2016

O Fantasma do Pintor

Dedicado a Filipe Cachide.

"Desculpe se a pisei,
Mas este conto é giro, não é?"


O pintor havia morrido num domingo de Páscoa abrasador, numa daquelas tardes de domingo para quem até mesmo às crianças o Satã espicaça a paciência. O Padre Casimiro quer que todos vão à fava; se não querem receber o senhor em casa, pois que ardam nas tenazes quentes do inferno. Houve um imenso cortejo até ao cemitério - um silêncio em tudo por onde passava, mesmo junto à alameda de tília frugais onde o sol incidia placidamente. Na lápide ficaram inscritas letras de ouro a fogo. Certa noite, no meio de um breu cerrado, sob um manto de chusma de estrelas, como nas noites da casa da minha infância, uns moços de trazer por casa leram as letras gravadas na lápide e exclamaram: «É o pintor!» Os mandarins resolveram pois cobrir a lápide com um saco de cartão, numa brincadeira apenas comparada quando o Satã espanta as velhas em noites de temor crescendo com objectos que circulam por iniciativa própria, ora para um lado ora para o outro. «Hahaha – riram os moços diante da lápide conspurcada –, agora parece um camafeu!» «Anda cá! Anda cá, sacana! – bradou o pintor lá em baixo na fornalha do caixão. – Retira imediatamente isso! Um dos marotos enviesou muito os olhos: «Acordou, o pintor. Acordou dos justo... Que de justo não tem nada – e tendo proferido estas palavras, desatou numa gargalhada: «Hahaha, a tua lápide parece um camafeu, pintor... «Sacana, pá!… – bradou o pintor já desmedidamente inconsolável – Olha anda cá! Anda cá, se és homem!… «Hahaha – riram em uníssono os pândegos, fugindo em chusma. O pintor amaldiçoou os rapazes e uivou noite adentro. Aconteceu porém que a velha Adelaide apareceu no cemitério àquela hora, e tendo ouvido os berros do pintor, dirigiu-se para aqueles lados. «Ó meu querido pintor – disse a velha, muito assertiva em relação ao contacto com os mortos –, azucrinaram-te a velha lápide. «Ó velha, tira fora esse saco de cartão, s.f.f. Até vão pensar que é um chapéu de um pobre. «Realmente, minha alma, lá isso parece. Isso foi obra de quem? «Foram esses calhordas dos rapazes. Conspurcaram a minha lápide como o lavrador conspurca a velha mula. «Meu Deus, vê-se que estás revoltado… Que indecente! Deus te ajude! – Então a velha retirou o invólucro e caminhou para o seu destino. O velho não tinha ganho para o susto.

03 agosto 2016

Caramel

Com meia dúzia de tostões apenas, este gajo realizou o vídeo mais interessante para uma partitura dos Cluster.

Plight

Já vi uma obra do grande Joseph Beuys no Centre Pompidou, The Plight. Foi aquando da exposição La Révolution Surréaliste. Andávamos a peneir...