Cromeleque dos Danados: abril 2017

15 abril 2017

Joseph K Sokratis

O senhor Joseph K Sokratis vinha pela rua em trote deveras apressado, tropeçando ostensivamente na calçada, precipitadamente para chegar a uma casa térrea onde residia um conhecido bruxo. Ora, Joseph K Sokratis, tendo chegado ao seu destino, resfolgando diante da referida casa térrea, bateu à porta com fortes pontadas de desespero e choro escarlate. Demorou algum tempo até que alguém viesse atender. Uma figura absolutamente hedionda entreabriu a porta, e Joseph K Sokratis constatou que se tratava do mordomo do conhecido bruxo, um odre corcunda com face macilenta pejada de cravos. Joseph K Sokratis esfregou a massa putrefacta das solas contra o tapete, subiu uns degraus íngremes até ao primeiro piso, amparando as mãos grossas à parede, e deparou-se com o bruxo sentado a uma secretária, perscrutando-o numa expressão peculiar. Na sala destacavam-se outras figuras. Umas velhas, envergando uns trapos negros, cirandavam em redor, arrastando uma longa ladainha, ora num tom muito agudo ora sublimado. Numa cadeira, uma mulher robusta e matriarcal, com um colar de orelhas humanas em redor do pescoço, entrava num êxtase espectral. O senhor Joseph K Sokratis tartamudeou qualquer coisa; o bruxo consentiu sorrir naquela mesma expressão torturante: «Sinto um cheiro nauseabundo desde que o senhor entrou; não terá calcado qualquer coisa pouco decente? «Sim, é provável… «Mas espere, veja a textura da massa decalcada na sola do sapato; isso parece coisa de bode. «Quer dizer que o senhor adivinhou o que me há sucedido? O bruxo sorriu: «Eu nada adivinhei; apenas lhe quis verificar que a massa pegada na sola do sapato é coisa de bode. «Isso é incrível - porque a minha mulher julga que possuí um bode. «O senhor está a querer dizer que possuiu um bode? – perguntou o bruxo enleado. «Não, meu amigo. A minha mulher está é convencida disso. «Mas se a sua esposa está convencida que o senhor possuiu um bode, isso apenas leva a crer que o senhor, de facto, e por qualquer razão altaneira, possuiu um bode. «Está parvo? – baliu Joseph K Sokratis. 
- Então como quer que o ajude? Quer dizer que não se aproveitou do animal? – indagou o bruxo. 
- É claro que não... 
- Mas o que leva a sua esposa a acreditar que possuiu um bode? 
- Eu não sei… Ela entra num estado muito particular de histeria. 
- Verdade? – indagou o bruxo obviamente enleado pela história incrível do nosso Joseph K Sokratis. 
Dirigiu-se portanto a um compartimento contíguo. Voltou com um crânio nas palmas das mãos. 
- Faça-me um favor, senhor Joseph K Sokratis – disse, espargindo umas ramas de fumo brando sobre o crânio –, visualize o bode. 
- Qual bode! – exclamou Joseph K Sokratis já desmedidamente inconsolável. – Valha-me Deus, eu não possuí bode nenhum. 
- Vá, feche os olhos... Procure visualizar o animal.
Pelos vistos o senhor Joseph K Sokratis ficou rendido à subtileza macabra do bruxo: «Estou a imaginar o bode, meu amigo. E parece que tem a marca de uma forja no quadril. E a marca tem a forma de uma inscrição. 
- A marca do mafarrico?! – exclamou o bruxo tropeçando no enlevo da própria revelação – Que diz a inscrição? 
- Vela pela quinta pata do cavalo. Vela por mim. Eu sou Segismundo.

A fuga ou a génese de um eco cosmológico

A fuga ou a génese de um eco cosmológico Se num momento o tempo parasse sabias que nos moldes onde me encontro haveria um espasmo um big ban...